a ideia.
como ando folgado das pernas decidi dar-lhes um tratamento especial. não, nada de massagens ou visita ao spa… antes um treino seguindo o percurso do eléctrico 28. este já estava na calha há algum tempo, pelo que nada melhor do que aproveitar a calma citadina de uma manhã de sábado, para fazer o percurso do eléctrico mais turístico da capital. sem máquina fotográfica ou mapas, apenas uma boa dose de vontade e mentalmente preparado para as dificuldades que sabia ir encontrar.
uns dias antes tinha metido conversa com o guarda-freio dum eléctrico que estava na paragem a aguardar o início da viagem, o qual deve ter tido algumas dúvidas sobre a sanidade mental aqui do escriba! entre várias perguntas, inquiri-o sobre qual a extensão do trajecto percorrido pelo eléctrico (curiosamente não sabia!?), pois estava a pensar fazer o percurso da carreira 28 a correr. após algum tempo de amena cavaqueira, entre conselhos e sugestões várias, o meu interlocutor rematou com um muito avisado ” … por 1,45€ pode ir sentado, aprecia as vistas e não se cansa. e olhe que se vai mesmo cansar, quando chegar à sé muda de ideias…”.
mas como sou de ideias fixas, resolvi mesmo levar esta ideia por diante. cheguei cedo a campo de ourique, estacionei o carro e fui para o ponto onde a carreira 28 se inicia.
o percurso.
o percurso decompõe-se em 4 segmentos distintos (campo de ourique – estrela / estrela – camões / camões – graça / graça – martim moniz), e é sobre cada um deles que aqui deixo as minhas impressões. neste caso a orientação é muito fácil, dado apenas ter que seguir os carris do eléctrico.
segmento 1.
este primeiro segmento não tem qualquer dificuldade, sendo ideal como fase de aquecimento para o restante percurso. quase totalmente plano e com uma ligeira descida até à estrela. fácil, muito fácil…
percorridos 0,76 km. acumulados 0,76 km.
segmento 2.
calçada da estrela. esta desce e bem pelo que ainda não foi ali que encontrei qualquer dificuldade. o primeiro teste às pernas estava reservado para a calçada do combro, porém superado sem novidades. depois fui sempre a rolar sem problemas de maior, as ruas ainda calmas e com pouco movimento, até chegar ao camões, a esta hora da manhã povoado apenas pelos homens da limpeza, pombos e os inquilinos circunstanciais que começavam a despertar por debaixo das suas improvisadas habitações de cartão e plástico.
percorridos 1,88 km. acumulados 2,64 km.
segmento 3.
a partir daqui o percurso começa a dar luta! divide-se em duas partes distintas – antes e depois da sé. até à sé todos os santos ajudam. a partir dali… hajam pernas! é que nem com os santos a empurrarem a coisa se torna mais fácil. mas vale a pena o esforço. santa lúzia e as portas do sol oferecem-nos magníficas vistas da cidade. não é novidade que lisboa tem uma luz soberba, a qual tem um quê de irreal nas primeiras horas da manhã. vale a pena apreciar. deixo as vistas para trás e continuo a ascensão até à graça, navegando as ruas na calmaria da cidade meio adormecida.
percorridos 2,56 km. acumulados 5,20 km.
segmento 4.
chegado à graça está cumprida a parte mais díficil do trajecto. está conquistada a colina de santo andré, a mais alta de lisboa, na qual se situa o miradouro da senhora do monte, de longe o meu preferido da capital. uma espreitadela à cidade a partir deste local fica para mais tarde, pois tinha de cumprir os km finais deste percurso. como tudo o que sobe tem que descer, agora é só pôr um pé à frente do outro e ir indo até ao martim moniz, o melting pot étnico e cultural da cidade. o trecho que vai da rua maria até ao martim moniz é o mais degradado de todos aqueles por onde passei, sendo por demais visível a miséria humana que esta parte da cidade acolhe.
percorridos 2,22 km. acumulado total 7,42 km.
…(continua)