
Ilustrações de Tiago Albuquerque.
Retomo o percurso pelas Calçadas da Graça e do Monte para chegar ao meu miradouro favorito, a 7ª paragem desta rota panorâmica.
O miradouro da Senhora do Monte é coroado pela Ermida de São Gens (ou de Nossa Senhora do Monte), fundada em 1147 e consagrada ao bispo que, reza a lenda, aqui foi martirizado, local onde ainda hoje as grávidas vão à procura de protecção para o parto. É um dos miradouros mais elevados e de maior beleza da capital, sendo também um dos menos frequentados. De construção semi-circular e delimitado pelo bonito Largo do Monte, é sombreado por frondosas árvores que o circundam e conta com um leitor panorâmico (fábrica viúva Lamego, 1965) indicativo dos locais que dali se conseguem avistar.
A partir daqui o percurso entra num trecho mais plano que percorre a Penha de França, levando-me até dois miradouros pouco divulgados e muito diferentes entre si. Requalificados em 2009, já foram ambos vítimas dos “artistas” que se entretêm a destruir os espaços públicos com os ignóbeis graffitis.
No
miradouro do Monte Agudo, um pequeno lugar recôndito que mais parece um jardim particular com entrada reservada a pessoas do bairro, é tempo de admirar o casario do Bairro das Colónias e uma vista fabulosa do norte e ocidente da cidade. Também aqui encontramos um leitor panorâmico que identifica os elementos da paisagem que se avista, num ambiente tranquilo que convida a uma permanência prolongada.
Sigo o percurso pela Rua da Penha de França até à paragem seguinte, que dista pouco mais de 700 m da anterior.
O
miradouro da Penha de França oferece uma bonita vista de sudoeste sobre a cidade de Lisboa e, mais para norte, conseguimos ainda ver no horizonte a Serra de Sintra. Apesar da espectacularidade da vista, este miradouro não é uma grande atracção turística devido à falta de espaços verdes e esplanadas, onde os seus visitantes possam confortavelmente relaxar e aproveitar a vista. No local existe um antigo depósito de água da EPAL, que há anos aguarda a realização de um concurso de ideias para instalação de um espaço de lazer.
Agora é tempo de descer a calçada do Poço dos Mouros em direcção à Alameda D. Afonso Henriques, uma obra de regime que glorificava o Estado Novo e, ironicamente, palco privilegiado de inúmeras manifestações durante o verão quente de 1975, para apreciar as vistas do segundo miradouro menos elevado deste percurso.
O miradouro da Alameda foi construído em 1945 na elevação sobranceira à fonte monumental, dele se obtendo um amplo panorama sobre o extenso relvado, bem como do notável conjunto de edifícios do Instituto Superior Técnico, projectados pelo Arquitecto Pardal Monteiro, a primeira grande obra pública modernista do antigo regime.
Continuo o percurso descendo a Avenida Almirante Reis, sigo pela Rua de Arroios e revisito a Rua
Francisco Lázaro. Pelo Paço da Rainha subo em direcção à próxima paragem, um oásis de tranquilidade que continua a ser um dos maiores segredos da cidade.
O
miradouro do Torel situa-se no terreno outrora pertencente a João Caetano da Cunha Thorel, um abastado proprietário da zona que ali habitou um palácio que foi consumido pelas chamas em 1875. Seguiu-se o Conde de Castro Guimarães como proprietário do local, no qual construiu um palacete e jardim que vendeu ao Estado em 1927. O palacete acolheu primeiro a Polícia Criminal e depois a Polícia Judiciária, tendo o jardim sido cedido à C.M.L. que, na década de 1930, teve a iniciativa de aí construir um miradouro. Em 2009 foi alvo de obras de renovação que o dotaram de novos equipamentos, valorizando um espaço que proporciona uma soberba vista sobre a Avenida da Liberdade e Baixa.
Desço pela Calçada do Lavra para a parte baixa da cidade e, Avenida da Liberdade acima, chego ao 12º miradouro deste percurso.
O
miradouro do Parque Eduardo VII situa-se no topo do maior parque citadino de Lisboa. Dele abarcamos uma majestosa e ampla panorâmica, em que o vale da Av. da Liberdade, ladeado pelas colinas históricas, se abre sobre a Baixa Pombalina e o Tejo, permitindo ver, no horizonte, Palmela e a Serra da Arrábida. É um local de eleição para perceber a cidade e a sua evolução.
(2/3)
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