Sob a temática dos Descobrimentos continuo o percurso pela beira-rio até ao último miradouro deste percurso, um monumento cuja génese remonta a 1940 por ocasião da Exposição do Mundo Português, um acontecimento organizado pelo Estado Novo para comemorar, em simultâneo, a fundação de Portugal (em 1140) e a Restauração da Independência (em 1640).
Na configuração actual o Padrão dos Descobrimentos (projecto conjunto do arquitecto Cottinelli Telmo e do escultor Leopoldo de Almeida), foi revelado à cidade em agosto de 1960, aquando das Comemorações Henriquinas que assinalaram o 5º Centenário da morte do Infante D. Henrique. O miradouro do Padrão dos Descobrimentos (acesso pago: 3,00€) situa-se no topo desta construção, qual Nau Portugal em terra, tripulada por 32 figuras marcantes da história de Portugal, ligadas directa ou indirectamente aos Descobrimentos, capitaneadas pelo Infante D. Henrique. Do alto dos seus 50 m brinda-nos com mais uma deslumbrante vista do Tejo e da Praça do Império, permitindo igualmente uma visão ímpar da magnífica decoração do terreiro de acesso ao monumento, a imponente Rosa-dos-Ventos com 50 m de diâmetro. Desenhada pelo arquitecto Cristino da Silva e executada em mármores de diversos tipos, as naus e caravelas que navegam no planisfério de 14 m ilustram as principais datas e rotas dos Descobrimentos Portugueses.
O dia 9 de janeiro de 1943 marcou a data do primeiro grande acidente aéreo em Portugal. O hidroavião quadrimotor Sunderland da British Overseas Airways Corporation, descola do rio Tejo para um pequeno voo experimental de forma a testar o novo motor instalado nos dias anteriores. Por cortesia do comandante, o capitão Henry Lock, 12 pessoas foram convidadas para efectuar o baptismo de voo durante o teste, o qual se veio a revelar trágico. Pelas 10h25, quando voava entre o Terreiro de Paço e Xabregas a uma altitude de 100 metros, um incêndio seguido de uma enorme explosão fez com que o Golden Horn se despenhasse nas águas do Tejo, provocando a morte a 13 dos 15 passageiros que transportava. Um mês e meio depois e a poucas centenas de metros deste local, dá-se o segundo acidente aéreo grave em Portugal. A 22 de fevereiro, o Boeing 314 “Yankee Clipper” da PanAm despenhou-se bruscamente nas águas do rio quando se preparava para amarar na doca de Cabo Ruivo, matando 24 dos 39 passageiros a bordo. Terminava de forma trágica o voo #120 da rota Nova Iorque – Southampton, com escalas na Horta e Lisboa, naquela que seria a 241ª travessia atlântica do Boeing 314, matrícula NC18603.
Termino este percurso dirigindo-me à Rocha do Conde de Óbidos onde faço o atravessamento da Av. 24 de julho. Os metros finais são feitos subindo a escadaria de acesso ao jardim 9 de abril, “cais” de partida deste encontro com o Tejo.
Mais do que um percurso esta é também uma rota pela história de Portugal e por alguns dos seus feitos mais marcantes. Da epopeia dos Descobrimentos, e subsequente afirmação do país como grande potência mundial, à encenação de uma ideia de modernidade e grandeza tão caras ao Estado Novo, todos estes factores permanecem bem presentes na maioria dos locais visitados. Conheça-os ou revisite-os. Lisboa agradece.
Características do percurso – piso: duro (alcatrão e calçada); distância: 18 km; retorno: sim (circular); água: sim; estacionamento: fácil; grau de dificuldade (1 a 5): 4; coordenadas gps do ponto inicial/final: n38º 42.245′, w9º 09.780′; altimetria: gráfico abaixo.