a tragédia de ontem em boston deixou-me profundamente chocado. nunca imaginei que a barbárie pudesse chegar ao nosso desporto, muito menos da forma tão abrupta e extremamente violenta que presenciamos em directo.
a maratona é o mais unificador de todos os eventos desportivos, na qual participamos pondo à prova, em cada um dos 42,195 km, o nosso espírito de sacríficio e capacidade de superação. para quem, do outro lado da barreira assiste ao evento, não é muito importante quem vence, nem tão pouco existe a obrigação de torcer por este ou aquele atleta. o objectivo é simplesmente aplaudir aqueles milhares vindos de todo o mundo para vencerem a mítica distância, independentemente da sua origem ou religião. em boston é rigorosamente assim desde 1897.
por isso, não consigo imaginar a sensação de terror que ontem terão vivido milhares de espectadores e atletas quando, no decorrer da festa, desabou sobre boylston street o mais ignóbil acto de cobardia possível de ser praticado pelo ser humano. não consigo imaginar o que será ver irmãos nossos, que poucos minutos antes tinham concluído a prova, ficarem horrivelmente mutilados pelo simples facto de terem estado no local certo, à hora certa, mas que alguém (ou alguma organização terrorista) resolveu tornar no local errado e à hora errada. não consigo imaginar o que será ver todos aqueles que ali estavam para aplaudir e dar mais significado ao momento, terem pago com a vida ou com horríveis ferimentos, a sua generosidade e apoio ao nosso desporto.
li no editorial de um grande jornal americano que “A alegria simples de uma corrida de 42,195 km foi despedaçada na segunda-feira. Mas a maratona estará de volta no próximo ano, independentemente do nível de segurança que seja necessário impor, a qual os cidadãos de Boston irão aplaudir ainda com mais força e convição. Nenhum acto de terrorismo é suficientemente forte para estilhaçar uma tradição que é parte integrante da história Americana.”
espero que sim! eu continuarei a marcar presença quando e onde escolher, pois recuso-me a viver com medo e a ceder ao clima de terror que alguns persistem em impor. e lembrar-me-ei, para sempre, daqueles a quem ontem tiraram, em definitivo, a possibilidade de celebrarem “a alegria simples de uma corrida de 42,195 km“. não consigo imaginar…
Eu também não